Tinha era tempo que queria assistir esse documentário. A Fê Evangelista me avisou que ele está disponível no Netflix. Consegui assistir ontem.
Gente, é imperdível!!!
O filme trata do mercado de alisamento nos EUA, o quanto movimenta bilhões de dinheirinhos. Bilhõõõões mesmo! $$$
Tem várias entrevistas com homens e mulheres. A opinião de quem alisa, de quem não alisa, dos grandes empresários do ramo, dermatologista, químico, etc.
A opinião dos homens, como se sentem diante das mulheres que alisam, é a parte mais engraçada do filme. Muitos falam que não podem tocar no cabelo das mulheres negras por causa dos apliques. E elas afirmam que é isso mesmo. Tocar, nem pensar!
Lá a distinção de negros e brancos é gritante! Conversei outro dia com a Fê, que mora em Chicago, nos EUA e ela disse que vive em um bairro miscigenado, mas que existem bairros negros, guetos com códigos, rótulos. Talvez por isso o filme trate especificamente dos negros e não dos mestiços. Não ouvi em nenhum momento o foco ser apenas o cabelo e sim somente as negras, como se o cabelo desse tipo só pertence a raça negra.
Os apliques são um dos temas fortes do filme. A origem, de onde vêm os cabelos. Direto da Índia, o Chris Rock mostra o ritual religioso de lá chamado "Tonsura" em que as pessoas doam seus cabelos aos deuses para que seus pedido sejam atendidos ou como forma de agradecimento.
É claro que não demorou muito pra alguém vislumbrar o lucro em cima daquela cabeleira toda. O cabelo indiano é muito valioso porque lá as mulheres não costumam pintar. Elas cuidam bastante. Os fios mais compridos valem ouro. Os cabelos, a partir de uma certa medida, são tratados e comercializados. Os tufos são exportados para o mundo. Hoje movimenta um mercado gigantesco. Enchem os cofres dos empresários e alimenta também o trabalho, que a meu ver pelo filme, é oferecido em condições bem precárias para quem separa, lava, costura os fios. Então quem doa o cabelo aos deuses, numa clara demonstração de fé, acaba por incentivar um comércio que nem imagina.
Aplique com cabelo indiano |
O filme mostra também os efeitos do hidróxido de sódio, o quanto ele pode ser nocivo a pele. É assustador! Corrói até uma lata de refrigerante!!!! #medo
É perigoso para quem faz como para quem aplica, que inala.
Nas entrevistas ele aborda sobre a ardência do produto ao passar. As entrevistadas falam que quando mais aguentar a queimadura, mais liso fica. Lembro bem disso quando fazia relaxamento e saía com o couro cabeludo todo chamuscado.
Ele pergunta a uma criança de 6 anos, que está fazendo alisamento, quantas vezes ela já fez. Ela não sabe dizer. Fala que fez amaciamento, mas que o cabelo o caiu. Depois disso a mãe começou a usar alisante para crianças.
Segundo a Dermatologista que participa do filme, Dra Melayne Maclin-Carroll, ela afirma que o alisante infantil é igual ao adulto. Só é um pouco mais suave. Mas é o mesmo produto químico, o hidróxido que pode ser muito perigoso.
Em outra parte ela diz que em uma certa idade, a criança está crescendo, o couro cabeludo ainda está amadurecendo, os folículos estão amadurecendo, e se você colocar essa química cedo demais, danifica os folículos do seu filho praticamente pra sempre.
Ao perguntar a uma menina de 3 anos se ela gosta de alisar o cabelo, a resposta é não. Ele fala que tem uma filha de 3 anos que não fez alisamento ainda e pergunta se ela tem que fazer. A criança diz que sim. A senhora que está com ela pergunta: Por que a Zahra (filha do Chris) deve fazer um alisamento? A menininha responde: Porque... ela precisa fazer um alisamento.
Ele reafirma: Porque todo mundo precisa fazer um alisamento? Ela responde: Sim.
Uma competição, que acontece por lá, dos Irmãos Bronner, permeia todo o filme. Mostra a preparação dos cabeleireiros competidores. Achei a competição uma cafonice, mas é o ponto alto da feira que acontece em Atlanta há mais de 60 anos. Um feira enorme que reúne vários produtores de cosméticos. A Associação Negra de Fornecedores de Produtos de Beleza participa e revela que, dos 100 fabricantes de cosméticos destinados ao público negro, apenas 20 pertencem a proprietários negros. Os demais são de propriedade dos asiáticos.
Tem uma parte que percebi o quanto essa fixação ao liso, essa negação do cabelo crespo é forte. Em um grupo com 5 mulheres, onde apenas uma tinha o cabelo natural, que estavam prestes a se formar, o Chris Rock perguntou; "Vocês acham que têm chances de conseguir um emprego com o cabelo natural ou vão precisar de apliques para conseguir um bom emprego?
A de vermelho a esquerda, na foto acima responde, olhando para a que tem cabelo natural:
"Mesmo eu achando seu afro bonitinho, se alguém viesse ao meu escritório com um afro grande e um terno, isso não teria sentido. É como uma contradição. Eu ficaria relutante.
A de baixo, de verde, complementa:
"Concordo. Se eu fosse um escritório de advocacia novo e você quisesse entrar, eu diria... Bom, você é linda e entendo o que você diz, mas não posso esquecer que você vai se reunir com executivos e eles não vão levar você a sério porque você não parece profissional".
A menina ficou mega sem graça e balançou a cabeça numa de que vai ter que entubar essa.
Minha gente, se quem ainda não entrou no mercado de trabalho pensa assim, é porque a lavagem cerebral vem desde bebê. Na boa? TENSO!
Corta a cena para uma outra pessoa com cabelo natural:
"Você realmente precisa ter convicção. Porque há tanta pressão para alisar o cabelo o tempo todo... Mas o resultado é uma coisa linda. É engraçado porque sempre achei interessante que manter o meu cabelo com a mesma textura com que ele cresce na minha cabeça é considerado revolucionário.
E como é...
Gente, assistam! Tem hora que você se revolta, outra que se choca, outra que você agradece por morar no país que mora, outra que você quer gritar ao mundo que não precisa ser assim... olha, um misto de emoções.
Pra quem não é assinante Netflix, você pode usufruir por 1 mês grátis. Dá para assistir pelo computador, tablet e até celular.
Vale a pena!
Bjs e depois me contem! ; )
Sobre a Crespa
Claudia Montelage é cantora, botafoguense, libriana, sócia da Dois Versos e desde de 2012 pilota o blog "Eu Sou Crespa". Resenhas, tendências, transição, indicação de salões e profissionais, exemplos reais, aceitação e valorização do cabelo natural fazem parte dos temas abordados nesse espaço dedicado aos cabelos crespos e cacheados.!
Não encontrei na netflix:(
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